Guarani: O Bugre adormecido.

Amigos leitores, quem nunca ouviu falar no Guarani? Pois é, aposto que poucos nunca ouviram falar de um dos principais times interioranos do nosso grande Brasil.

Desta vez, o Espírito Esportivo conta um pouco da história do Bugre de Campinas, contando como ele se tornou grande, passagens históricas, ídolos, estrutura, títulos e muito mais...


História:

No começo do Século XX, cerca de 25 times foram fundados na cidade Campinas, mas todos com vida efêmera. Porém, em março de 1911, alguns adolescentes tiveram a ideia de fundar mais uma equipe na cidade, com o pensamento de "não ser somente mais um". Os adolescentes passaram a contatar amigos e parentes para que comparecessem à uma reunião, aquela que seria de fundação.

Time na Inauguração do "Pastinho"

No dia 1 de Abril de 1911, 12 jovens compareceram à essa reunião, aderindo a proposta de fundação de um novo clube. Muita discussão rolou entre esses jovens "fundadores" em relação ao nome do clube, até que surgiu "Guarany Foot-Ball Club", em homenagem à obra de Carlos Gomes, aceitado por todos. As cores Verde e Branco são alusão ao verde da Praça Carlos Gomes, que foi onde ocorreu a reunião de fundação e em referência também para a luz do dia que os iluminava.
Um outro detalhe na fundação, foi a data. Incomodados com o dia 1 de Abril, popularmente conhecido como dia da mentira, os jovens fundadores estabeleceram que o clube só existiria no dia seguinte, 2 de Abril, para evitar gozações futuras.
Uma nova reunião foi marcada para alguns dias depois para instalação definitiva da Associação. O número de adeptos tinha crescido, chegando a pelo menos 21 membros. Ali, estabeleceu-se a Primeira Diretoria Definitiva do clube, presidida por Vicente Matallo.
Em poucas semanas, os estatutos foram elaborados, e junto com a Prefeitura Municipal,  foi concebido um terreno de terra batida, onde foi instalado o primeiro campo para jogos e treinos, com traves de bambus. No dia 23 de Abril de 1911 realizava-se o primeiro treino entre duas equipes formadas por associados do Guarany Foot-Ball Club, no chamado "Ground da Villa Industrial".


O Começo:

Estádio do Guarani, apelidado como Pastinho

Em 1923, o então Guarani, conseguiu adquirir seu primeiro estádio, o primeiro da cidade de Campinas, nomeado de "Estádio do Guarani", apelidado de "Pastinho". Para a inauguração, o Bugre convidou o Club Athletico Paulistano, de Friedenreich, vencendo por 1x0 com gol de Zequinha. O estádio passou por várias reformas e ampliações, servindo como casa do clube até 1953.
Em 1947, o profissionalismo chegou ao interior paulista. Em 1948, o Guarani disputou a Divisão de Acesso, promovida pela Federação Paulista de Futebol que viabilizava dar chances para os principais clubes do interior disputar o Campeonato Paulista. Enquanto a equipe disputava a Divisão de Acesso, a diretoria viabilizava um novo estádio, pois o seu atual já não comportava mais o clube.


Brinco de Ouro da Princesa:

Como dito anteriormente, a diretoria viabilizava um novo estádio para a equipe de Campinas, sendo este, o Brinco de Ouro da Princesa. O Projeto saiu em 1947, quando o relatório apresentando pela "Comissão Pró-Reforma do Estádio" foi conclusivo, onde o Clube deveria construir um estádio maior que o "Pastinho", mesmo que fosse mais distante da cidade, já que uma nova reforma do estádio era inviável. Em 11 de Julho de 1948, a "Comissão Pró Estádio" lançava a maquete do novo estádio. Ao ver a forma circular e a beleza do novo estádio, o jornalista João Caetano Monteiro Filho o comparou a um brinco. Como Campinas era conhecida como "Princesa D' Oeste", foi criado um trocadilho: "Brinco de ouro para a 'princesa'". Na decisão pelo nome do estádio, não ficou dúvida: "Brinco de Ouro da Princesa", que já estava na boca da população.

Brinco de Ouro da Princesa

Após o acesso em 1949 para o Campeonato Paulista, a diretoria tirou o projeto da maquete e começou as obras. Com campanhas do tipo "Campanha de Tijolos", "Campanhas de Cimento", a diretoria foi conseguindo pouco a pouco os recursos necessários para a construção.
No dia 31 de Maio de 1953, o Brinco de Ouro da Princesa foi inaugurado, com 2 jogos, sendo eles contra Palmeiras e Fluminense. No jogo de abertura, a equipe do Guarani venceu o Palmeiras por 3x1. Coube a Nilo, fazer o primeiro gol do estádio, numa falta no atual gol de entrada. Dido e Augusto complementaram para o Bugre, ao passo que Lima descontou para o Palmeiras. No segundo jogo, o Fluminense venceu o Guarani, por 1x0, gol de Marinho.
O projeto inicial do Estádio, contava com 29 mil lugares, mas com algumas mudanças, foi finalizado com 33 mil lugares. Quando o Guarani foi campeão Brasileiro em 1978, foi viabilizado um "tobogã", que aumentaria a capacidade para mais 15 mil pessoas.

O Momento mais feliz:

Presidente Ricardo Chuffi
ergue a taça do Brasileiro de 78

Com certeza, as décadas de 70 e 80 reservaram bons momentos para o Guarani, principalmente em 1978, onde conquistou o título de Campeão Brasileiro da Primeira Divisão. O campeonato foi disputado por 74 equipes de todo o Brasil, numa forma não tão conhecida hoje em dia, com Primeira, Segunda e Terceira Fase, Repescagem, Quartas, Semis e Finais. As equipes foram divididas em 6 grupos na primeira fase. O Bugre classificou-se em 5º no Grupo "D", não precisando de repescagem. Na Segunda fase, ficaram 36 equipes, divididas em 4 grupos. O Guarani classificou-se em 4º no Grupo "D", conseguindo a vaga para a Terceira Fase, que contou com 32 equipes. A equipe Campineira conseguiu a classificação no Grupo "A", onde ficou em primeiro. Veio a fase final, o Bugre eliminou o Sport Recife nas Quartas, o Vasco da Gama nas Semis e enfrentou o Palmeiras na final, onde venceu os dois jogos por 1x0. No jogo de ida, no Morumbi, Zenon fez para o Bugre, já na volta, no Brinco de Ouro, Careca marcou.
Veio 1979 e a Libertadores. A equipe caiu no Grupo "3", onde classificou-se para a fase final na primeira colocação. Naquela época, a Libertadores era disputada em 5 grupos, onde só os primeiros avançariam para as Semis, que era disputada em 2 grupos com 3 equipes (O Boca Juniors, campeão do ano anterior, já entrara nas Semis). O Guarani ficou em 2º do Grupo "2", ficando fora da final, disputada por Olimpia e Boca Juniors. Como o Guarani tinha caído no grupo do Olimpia, que fora campeão, o Bugre foi consagrado o 3º lugar da competição.
Após alguns anos, o Brasileiro de 86 chegara e o Guarani vinha forte novamente. O Bugre, de Evair e cia, passara pela fase de grupos novamente, chegando à fase final, onde veio a eliminar: Vasco da Gama, Bahia e Atlético Mineiro, chegando na final juntamente com o São Paulo. O primeiro jogo aconteceu no Morumbi, terminado em 1x1. O segundo jogo aconteceria no Brinco de Ouro, onde terminara com o placar de 3x3. Após o empate por 1x1 no tempo normal e ir pra prorrogação. O Guarani esteve vencendo por duas vezes na prorrogação, mas nos acréscimos da segunda etapa prorrogativa, Careca empatou para o São Paulo, levando a decisão para os pênaltis, onde o Bugre perdeu por 4x3.


Competições marcantes:
Libertadores 1979, onde o clube conquistou o Terceiro Lugar.
Brasileiro 1978, onde o Guarani foi campeão ao vencer os dois jogos contra o Palmeiras, pelo placar de 1x0.
Brasileiro de 1986, onde sagrou-se Vice Campeão, ao perder nos penaltis para o São Paulo, após dois empates (1x1 no Morumbi e 3x3 em Campinas)
Paulistão 2012, sagrou-se Vice Campeão, ao ser derrotado para o Santos nas finais (3x0 e 4x2), ambas vitórias do Santos.

Mascote:

A figura do índio é adotada como mascote

O Bugre, mascote do Guarani, surgiu como homenagem ao filho da terra, o compositor Carlos Gomes, autor da ópera “O Guarany”, um enorme sucesso em 1911, ano da fundação do clube de Campinas. A figura do indiozinho, nada mais é do que a representação do homens que formavam a tribo dos Guaranis, conhecidos por ser de grande coragem e espírito de luta, características que o clube carrega ao longo de sua história.

Torcida:
Hoje, sua torcida é considerada a maior torcida do interior do Brasil.

Torcida do Guarani lotando o Brinco de Ouro

Títulos:
Taça dos Invictos: 1970
Campeonato Brasileiro 1ª Divisão: 1978
Campeonato Brasileiro 2ª Divisão: 1981
Paulista Série A2: 1949
Paulista do Interior: 1944, 1972, 1973, 1974, 1975

Careca, quando jogou no Guarani

Zenon

Craques revelados:
Amoroso (Campeão Mundial e da Libertadores com o São Paulo), Neto (comentarista da Band), Zenon (Dispensa comentários), Careca, Carlos Alberto Silva, Ricardo Rocha, Luizão, Djalminha, entre outros...

Neto, hoje comentarista da Band

Luizão, Djalminha e Amoroso

                                                                       






Hoje:

A situação do Clube não é das melhores, com uma boa estrutura, com mais de 126 mil m², o Guarani encontra-se na Terceira Divisão do Brasil e na Segunda Divisão do Campeonato Paulista (Série A2). O Bugre que já foi meteórico ao conquistar vários títulos, encontra-se adormecido. Acordou pela última vez em 2012, quando sagrou-se Vice Campeão Paulista, perdendo para o Santos na final. No ano seguinte, veio o descenso para a segunda divisão paulista. Sua última aparição na primeira divisão brasileira foi em 2010, quando ficou em 18º lugar, caindo para segunda divisão. O único clube do Interior do Brasil a ser CAMPEÃO Brasileiro (1978), encontra-se adormecido, com crises financeiras (algumas  crises cogitavam o leilão do Brinco de Ouro da Princesa) e dificuldade para se manter. 

Neste ano, a equipe ficou em 13ª lugar na Série A2 do Paulistão. No Brasileirão Série C, o Guarani encontra-se no Grupo B, e sua estréia será contra o São Caetano, em São Caetano, no domingo 27/04/2014.

Vamos torcer para que um dos maiores do interior volte a ter suas forças!